domingo, 8 de maio de 2011

O Principezinho IV - O essencial é invisível para os olhos...

Às vezes, quando queremos ter graça, damos por nós a mentir. Devo confessar que não foi muito honesto da minha parte pôr-me a falar dos acendedores de candeeiros. Quem não conheça o nosso planeta, pode ficar com uma ideia errada dele. Na realidade, os homens só ocupam uma pequena porção da Terra. Se os dois mil milhões de habitantes da Terra se pudessem de pé ao lado uns dos outros, como num comício, cabiam todos, à vontade, numa praça de vinte milhas de comprimento por vinte milhas de largura. Bem amontoada, a Humanidade cabia toda inteira na olhota mais pequena do Oceano Pacífico.

As pessoas crescidas, é claro, não vão acreditar. Pensam que ocupam muito espaço. Julgam-se tão importantes como embondeiros. Assim, é melhor vocês dizerem-lhes para fazerem as contas. As pessoas crescidas adoram números e ficam logo satisfeitas. Mas vocês, vocês que confiam em mim, não percam tempo a repetir tudo. Eu fiz as contas…

Uma vez, na Terra, o principezinho ficou muito admirado por não ver ninguém. Já estava com medo de se ter enganado de planeta, quando viu um anel da cor da lua a mexer na areia.

- Olá, boa noite! – lançou o principezinho para os ares, a ver o que aquilo dava.

- Olá, boa noite! – disse a serpente.

- Em que planeta caí eu? – perguntou o principezinho

- Na Terra, em África – respondeu a serpente.

- Ah!... E então na Terra não há ninguém?

- Aqui é o deserto. Nos desertos não há ninguém. A Terra é muito grande – disse a serpente.

O principezinho sentou-se numa pedra e olhou para o céu:

- Se calhar, as estrelas só têm luz para cada um de nós um dia encontrar a sua. Olha o meu planeta. Está mesmo aqui por cima… e fica tão longe!

(…)

- Por onde andam os homens? – perguntou o principezinho, passado algum tempo. – No deserto está-se um bocado sozinho…

- Também se está sozinho ao pé dos homens – disse a serpente.

O principezinho observou-a durante muito tempo e disse:

- Que bicho mais engraçado que tu me saíste! Fina como um dedo…

- Mas muito mais poderosa do que o dedo de um rei – disse a serpente

O principezinho sorriu:

- Não és nada… Nem sequer tens patas… nem sequer podes viajar…

- E posso levar-te muito mais longe do que um navio – disse a serpente.

Enrolou-se à volta do tornezelo do principezinho, como uma pulseira de ouro, e continuou:

- quando toco em alguém, devolvo-o imediatamente à terra de onde saiu. Mas tu és puro e vieste de uma estrela…

O principezinho não respondeu.

- Tenho dó de ti, assim, tão fraco, nesta Terra de granito. Se um dia tiveres muitas saudades do teu planeta, eu posso ajudar-te. Posso…

- Oh! Escusas de continuar, eu já percebi! – disse o principezinho. – Mas porque só falas por enigmas?

- Resolvo-os a todos – disse a serpente.

E ambos se calaram.

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