quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Há certos momentos em que a minha consciência acerca da possibilidade de morrer a qualquer momento, é extremamente activada. Não posso chamar a isto de ataque de pânico: o meu coração continua a bater normalmente, a respiração pausada e calma, nada de grandes exaltações. São apenas momentos em que o meu espírito, parece-me, é sugado do meu corpo, e ele transcende-se de tal forma ao ponto de eu pensar “posso estar a morrer precisamente neste momento; e toda esta tranquilidade assustadora que me assalta, é apenas aquela sensação de paz imensa, de saber que se sabe tudo e de que se poderia encontrar agora mesmo todas as respostas, que tudo faz um sentido enorme, aquele que dizem que se sente nos segundos imediatamente anteriores à morte”. A partir deste momento, todos os segundos que passam são uma conquista. Cada frame de imagem que passa na TV, cada vez que movo a cabeça, cada movimento ocular, cada inspiração e expiração. Saber que o meu corpo adormeceu de todo face a uma mente que, por sua vez, está bem desperta. Cada pensamento consciente torna-se uma conquista, a sensação maravilhosa de que, se estiver para morrer, conquistei mais um segundo à vida. E mais um, e mais um, e mais um minuto, e mais outro.
Não é assim tão mau como soa. Eu encaro-o como uma espécie de terapia, sessão de quase-hipnose ou transcendência que, no final, me faz tão bem à alma e me faz ver as coisas de forma diferente e com um olhar mais aberto e mais atento. Sinto-me rejuvenescida, como se tivesse quase para morrer e tivesse nascido de novo. Como se, no fundo, a vida me tivesse dado mais uma oportunidade e a vontade de a viver melhor. Ainda melhor.

1 comentário:

Rafaela Rolhas disse...

É como li algures: quando acordas todos os dias de manhã, é porque a vida te deu mais uma oportunidade. Vendo as coisas desta perspectiva, passamos a olhar para a vida de outra forma e não como um dado adquirido "ah, eu vou-me deitar para amanhã...".